Operadora em refinaria verifica pressão de tubulações para diagnósticos em válvulas

Como efetuar diagnósticos em válvulas

Executar diagnósticos em válvulas de forma correta não é um detalhe – é o que separa uma malha estável de uma operação cara, insegura e sujeita a paradas. Diagnósticos mal conduzidos mascaram problemas de atrito, histerese, dimensionamento do atuador e classe de vazamento (ANSI/FCI 70-2, IEC 60534-4), além de ignorarem sinais de emissões fugitivas (ISO 15848-1, API 622/624/641) e alertas NAMUR NE 107 emitidos pelos posicionadores.

Quando estruturado, o processo permite fazer diagnósticos em válvulas de controle com repetibilidade, comparar tendências a uma linha de base, priorizar intervenções por criticidade e cumprir requisitos de integridade (NR-13) com rastreabilidade.

Neste artigo, você verá o que medir on-line e off-line, como interpretar indicadores do posicionador, quais testes adotar para validar estanqueidade e como transformar esses dados em decisões de manutenção com ROI.

O que significa diagnosticar uma válvula

Diagnosticar é comparar o comportamento real do conjunto (corpo + trim + atuadores + posicionadores + acessórios) com o comportamento esperado para o seu regime de operação. No contexto do controle de processos, isso se traduz em:

  • Aderência de posição: a abertura solicitada (setpoint) coincide com a posição medida?
  • Atrito/histerese: há “stick-slip”, overshoot, offset ou ganho não linear?
  • Tempo de resposta: a válvula acompanha degraus e pequenas variações sem oscilar?
  • Estanqueidade: o assento vaza além da classe especificada (ANSI/FCI 70-2 / IEC 60534-4)?
  • Emissões fugitivas: o empacotamento atende ISO 15848-1/API quando aplicável?

Esses elementos formam a base de uma assinatura (baseline). Toda análise posterior compara tendências com essa referência.

Normas e referências que orientam o diagnóstico

As normas a seguir formam o arcabouço para planejar, executar e documentar diagnósticos em válvulas. Use-as para escolher o procedimento adequado (on-line ou off-line), estabelecer a linha de base, comparar tendências e gerar evidências auditáveis em FAT/SAT e manutenções periódicas. A aplicação específica varia conforme tipo de válvula, fluido, faixa de pressão/temperatura e criticidade da malha.

  • ANSI/FCI 70-2 e IEC 60534-4: método de teste e classes de vazamento do assento (IV, V, VI);
  • IEC 60534 (série): fundamentos de dimensionamento (Cv/Kv), ruído e considerações de serviço severo (úteis para interpretar causas de desgaste/cavitação);
  • ISO 15848-1 + API 622/624/641: desempenho de emissões fugitivas (Low-E) de gaxetas e válvulas;
  • NAMUR NE 107: padroniza categorias de diagnóstico (Falha, Manutenção Necessária, Fora de Especificação, Checagem Funcional) para mensagens de campo;
  • NR-13 (Brasil): integridade de equipamentos pressurizados; ampara rotinas de teste/registro;
  • IEC 61511 (segurança funcional): base para testes parciais/validação de válvulas ESD (quando aplicável).

Como efetuar diagnósticos em válvulas – abordagem on-line

Diagnóstico on-line mede a válvula em operação, sem desmontar:

1. Coleta de sinais do posicionador

  • Registre setpoint (SP), posição (PV), pressão no atuador, contagem de ciclos, tempos de assentamento e alarmes NE 107;
  • Ative rotinas de autotune e valve signature (curso completo) nas janelas programadas.

2. Testes de pequeno sinal e degrau

  • Aplique variações de 2-5% e monitore ganho efetivo, linearidade e histerese;
  • Degraus maiores (p.ex., 10-20%) verificam overshoot/tempo de acomodação.

3. Indicadores de atrito

  • Índices como “friction hysteresis” e “dead band” crescentes sugerem desgaste de guias/vedações, ar contaminado ou força insuficiente do atuador.

4. Seat-leakage monitoring

  • Em malhas que permitem, execute ensaios rápidos de estanqueidade pela própria instrumentação, validando a aderência à classe FCI/IEC (indicativo; o teste de aceitação é off-line).

5. Correlações de processo

  • Relacione desvios de comportamento com eventos (partidas, mudanças de receita, ∆P extremo, vibração). Isso ajuda a separar sintoma de causa-raiz.

Dica: sempre compare os resultados com a baseline pós-comissionamento (assinatura de curso salva após instalação). Mudanças graduais valem mais que leituras isoladas.

Como efetuar diagnósticos em válvulas – abordagem off-line

Diagnóstico off-line testa a válvula fora do processo, em bancada ou com o equipamento isolado:

1. Inspeção visual e dimensional

  • Verifique a sede/obturador (pitting, ranhuras), guias, vedantes, molas, gaxeta, eixo/hastes; confira folgas e concentricidade.

2. Teste de estanqueidade de assento

  • Execute conforme ANSI/FCI 70-2 ou IEC 60534-4, registrando classe atingida e condições de ensaio (fluido, P/T, método).

3. Teste hidrostático e pneumático

  • Confirma a integridade do corpo e dos limites de operação;
  • Documente conforme plano de inspeção (NR-13).

4. Calibração e curso

  • Ajuste o posicionador, equalize pontos de zero/ganho, verifique lineares (característica quick-open/linear/equal-percentage).

5. Parciais para válvulas de segurança/ESD

  • Quando aplicável, partial stroke test sob IEC 61511 para validar capacidade de atuação sem interromper processo.

Checklist prático para fazer diagnósticos em válvulas de controle

  • Defina criticidade (segurança, meio ambiente, produção) e frequência de diagnóstico por família de válvulas;
  • Garanta qualidade do ar (filtragem/regulação/seca) e confirme força de atuação vs. ∆P (toda a faixa);
  • Rode assinatura de curso e pequenos sinais; salve a baseline;
  • Analise indicadores: ganho efetivo, histerese, atrito, offset, tempo de assentamento;
  • Confirme estanqueidade (on-line indicativa; off-line para aceitação);
  • Revise especificação se houver recorrência: classe de vazamento, materiais, trim anti-cavitação, amortecimento, boosters;
  • Documente e priorize: converta achados em backlog (NE 107), com prazos e peças.

Sintoma → causa provável → ação recomendada

Use a lista como triagem rápida para diagnósticos em válvulas:

  • Oscilação/caça em controle fino → atrito alto, ar úmido, sintonias agressivas → tratar ar, revisar sintonias, checar guias/vedações.
  • Tempo de resposta lento → atuador subdimensionado, restrições pneumáticas → rever tamanho do atuador/booster, conferir tubulação de ar.
  • Offset persistente → histerese mecânica, folga de acoplamento → reaperto/alinhamento, inspeção de ligação e came.
  • Aumento de consumo/instabilidade a jusante → pass-by (assento) → teste FCI/IEC, recondicionamento do trim ou troca de assento (classe superior).
  • Elevação de emissões em LDAR → gaxeta/torque inadequados → reaperto controlado, troca por arranjo Low-E (ISO 15848-1/API).

Erros comuns (e como evitá-los)

  • Diagnosticar sem baseline: sem referência, tendências passam despercebidas;
  • Concluir pela válvula sem checar ∆P e processo: ruído/cavitação/flash podem ser a causa-raiz;
  • Ignorar o atuador: força/curso insuficientes mascaram “problemas de válvula”;
  • Não registrar condições de teste: dificulta repetibilidade e auditoria (NR-13);
  • Confundir teste indicativo com aceitação: para a classe de vazamento, siga FCI/IEC em bancada.

Onde entram reguladores e utilidades

Nem todo problema é de malha complexa. Em redes de utilidades, reguladores sem fonte externa são aliados. Válvulas reguladoras auto operadas estabilizam pressão/temperatura localmente, reduzindo esforços sobre válvulas de controle a jusante e, de quebra, simplificando diagnósticos (menos variáveis). Ainda assim, é recomendável validar estanqueidade e emissões conforme normas aplicáveis e manter registro de inspeções.

Realizar diagnósticos em válvulas com método – combinando normas (ANSI/FCI 70-2, IEC 60534, ISO 15848-1, NE 107, NR-13), baseline de dados e testes on-line/off-line – aumenta estabilidade de malhas, segurança e disponibilidade, além de reduzir OPEX e emissões.

Ao fazer diagnósticos em válvulas de controle com o suporte certo de instrumentação e gestão de ativos, você antecipa falhas e ataca causas-raiz com precisão. Com portfólio de válvulas, reguladores, atuadores, posicionadores e soluções digitais, a SAMSON oferece a base tecnológica e o know-how para transformar diagnóstico em confiabilidade comprovada.